A categoria de gênero como instrumental de análise das relações e estruturas sociais tornou-se uma ferramenta importante para os Estudos Feministas ainda na década de 1980. Com trajetórias e usos diversos, essa categoria também foi incorporada nas pesquisas e estudos no âmbito da Teologia e das Ciências da Religião, constituindo um campo próprio de discussão acadêmica sustentado em referenciais teóricos e metodológicos que foram se desenvolvendo e se articulando com diversas outras questões, em transversalidades relacionais e analíticas. Esse campo constitui-se, hoje, de maneira diversa, com múltiplos enfoques e abordagens.
Apesar dos recentes ataques às discussões, estudos e pesquisas que se utilizam da categoria de gênero para suas reflexões e argumentações, o questionamento a esse campo não é recente. No entanto, tais ataques assumiram proporções assombrosas, valendo-se de falsa propaganda e pânico moral, buscando deslegitimar um campo do conhecimento que já conta com uma tradição acadêmica, consolidada em Linhas, Programas e Grupos de Pesquisa, publicações, periódicos especializados e eventos acadêmicos reconhecidos em nível nacional e internacional, bem como de sua presença nos mais diversos espaços de pesquisa e debate acadêmicos em todas as áreas do conhecimento, inclusive na Teologia e nas Ciências da Religião.
Uma expressão disso é a existência e atuação do Grupo de Trabalho Gênero e Religião da Associação Nacional de Programas de Pós-Graduação em Teologia e Ciências da Religião (Anptecre), que existe como Simpósio Temático desde 2011 e foi reconhecido como um Grupo de Trabalho permanente da Associação por ocasião do 5º Congresso Nacional, em 2015. O GT Gênero e Religião tem sido, ao longo dos anos, um espaço para o compartilhamento, discussão e reflexão sobre pesquisas realizadas e em andamento, sobre questões relacionadas a esse campo de estudos na Área, bem como de estudo, planejamento e divulgação do trabalho realizado por pesquisadoras e pesquisadores nos diversos Programas de Pós-Graduação vinculados à Associação.
No momento em que as pesquisas desenvolvidas durante décadas nessa área estão sendo questionadas e ameaçadas por diferentes grupos e pessoas em nível político e religioso, entendemos que é nossa tarefa, enquanto Grupo de Trabalho de Gênero e Religião, reafirmar a pertinência científica e acadêmica de nossos trabalho e atuação. Manifestamos nosso compromisso ético e político com esse campo científico de pesquisa e repudiamos os ataques que o mesmo e quem nele atua vêm sofrendo de forma desrespeitosa, ideologicamente arquitetada, anticonstitucional em relação à liberdade de expressão e desconhecedora do próprio campo de estudos em questão.
Rio de Janeiro, 19 de setembro de 2019.